Com mais de 4.500 participantes reunidos em Salvador entre os dias 3 e 7 de dezembro de 2025, o 18º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) consolidou-se como um dos momentos mais emblemáticos da história da profissão. Celebrando 50 anos de existência, o evento retomou sua primeira edição totalmente presencial após a pandemia e promoveu debates sobre trabalho profissional, conjuntura política, justiça ambiental, desigualdades estruturais e os rumos do Serviço Social no país.
O CBAS foi realizado pelo CFESS, CRESS-BA, Abepss e Enesso, com apoio da Capes, CNPq, Ministério da Saúde e Governo Federal. A edição deste ano foi marcada não apenas pela grandiosidade da programação — com conferências, plenárias simultâneas, rodas de conversa, lançamentos de livros, exibição de filmes e mais de 2.000 pôsteres de trabalhos —, mas também pela recuperação histórica da trajetória dos congressos e seu papel decisivo na construção do projeto ético-político da profissão.
A conferência de abertura reuniu nomes centrais da produção acadêmica e política do Serviço Social brasileiro: Marilda Iamamoto (UERJ), Josiane Soares (UFRN) e Ivanete Boschetti (UFRJ). As três analisaram os 50 anos do CBAS, destacando sua centralidade na ruptura com o conservadorismo profissional, na crítica à ordem capitalista e na afirmação de um projeto profissional comprometido com liberdade, direitos e emancipação humana.
Ao longo da programação, temas estruturantes para a realidade brasileira ganharam força: justiça ambiental, crise climática, exploração e opressões na sociabilidade capitalista, desigualdades étnico-raciais, lutas de gênero, criminalização da pobreza, defesa das políticas públicas e impactos do desfinanciamento do Estado — debates que dialogam diretamente com o cotidiano de trabalho das(os/es) assistentes sociais do Distrito Federal.
Participação do Distrito Federal
O Distrito Federal esteve representado por profissionais que participaram do congresso, apresentando pesquisas, relatos de experiência e reflexões críticas sobre diferentes políticas públicas. Mais de 20 trabalhos de assistentes sociais do DF foram selecionados e expostos na programação, abrangendo temas como educação, saúde, habitação, assistência social, saneamento básico, direitos humanos, questões raciais, gênero e classe.

Ana Luiza Câmara, conselheira do CRESS/DF e a assistente social Magna Novais, que compõe a comissão de questão urbana
A conselheira do CRESS/DF, Ana Luiza Câmara, que participou do congresso, destacou a relevância da edição tanto pelo seu conteúdo político quanto pela dimensão histórica que resgata a potência do Serviço Social brasileiro.
“Este CBAS foi profundamente significativo pela celebração dos 50 anos do congresso e pela recuperação de nossa memória profissional. A exposição, os anais, as fotos e as falas históricas mostram o quanto os CBAs marcaram viradas importantes na profissão — especialmente o de 1979, que consolidou a ruptura com as raízes conservadoras e afirmou o compromisso com a classe trabalhadora’’.
Ela ressalta que os debates sobre conjuntura, fundo público e trabalho profissional dialogam diretamente com a realidade vivida no Distrito Federal. “As mesas que discutiram fundo público e políticas sociais foram centrais para compreender o momento que atravessamos no DF, com contingenciamento de gastos que impacta profundamente áreas como saúde e assistência social. Os debates sobre precarização e adoecimento de trabalhadoras(es) também refletem nossa realidade cotidiana”.
Ana Luiza também destacou a importância do CBAS como espaço de encontro entre diferentes dimensões da profissão. “O CBAS é o lugar onde estudantes, pesquisadores, docentes, CFESS, CRESS e profissionais se encontram para pensar a profissão, analisar a realidade social e construir coletivamente estratégias de enfrentamento. É um encontro que reafirma nosso projeto ético-político e nossa capacidade de resistência em um contexto tão marcado pela precarização”.
Uma edição marcada por memória, luta e futuro
O congresso deste ano contou ainda com um espaço de homenagem às figuras históricas do Serviço Social, por meio da série “Mulheragem”, que celebrou Marilda Iamamoto, Elizabete Pinto e Mauricleia Soares. No último dia, o plenário também foi marcado por um emocionante ato contra feminicídios, ressaltando a centralidade do enfrentamento às violências de gênero na agenda da categoria.
A conferência de encerramento abordou a polarização política no Brasil e no mundo, com falas de João Pedro Stédile (MST), Angela Abuk e Eblin Farage (UFF), reafirmando o papel do Serviço Social na defesa intransigente da vida-liberdade e na construção de um projeto societário radicalmente democrático.
Encerrando o evento, a presidenta do CFESS, Kelly Melatti, destacou o caráter autossustentado do congresso, sua dimensão internacional e o fortalecimento coletivo construído ao longo dos cinco dias.
Texto construído com informações do CFESS